
Tratamentos
01.
Transtorno Depressivo Maior (TDM)
O que é?
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O Transtorno Depressivo Maior é que chamamos comumente de depressão. De acordo com o DSM-51, suas características principais são o humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de mudanças somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade da pessoa de funcionar. Embora possa ocorrer apenas um episodio, geralmente é uma condição recorrente. É muito importante distinguir o que é uma tristeza ou luto normais de um transtorno depressivo.
Sintomas
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Para se encaixar no critério para Transtorno Depressivo Maior, a pessoa precisa apresentar cinco dos sintomas abaixo, sendo que o sintoma 1 ou o 2 precisam estar presentes:
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Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias
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Interesse ou prazer marcadamente diminuídos em relação a todas ou quase todas as atividades, quase todos os dias
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Perda ou ganho de peso significativo
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Insônia ou sono excessivo quase todos os dias
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Agitação ou lentidão psicomotora quase todos os dias
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Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
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Sentir-se sem valor ou com culpa excessiva, quase todos os dias
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Habilidade reduzida de pensar ou se concentrar, quase todos os dias
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Pensamentos recorrentes sobre morte, pensamentos suicidas sem um plano, tentativa de suicídio ou plano para cometer suicídio
Para que se considere que a pessoa esteja em depressão, os sintomas precisam causar impacto significativo no convívio social, no trabalho ou em outras áreas importantes.
Tratamento
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Embora a depressão seja um quadro que pode apresentar risco de morte para o paciente, muitas vezes ela é vista com negligência, como se fosse “frescura” ou “bobagem” por parte da pessoa que está sofrendo. Um documento do Ministério da Saúde2 aponta que algumas concepções erradas sobre a depressão podem atrapalhar seu diagnóstico e tratamento, como:
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depressão é fraqueza de caráter
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a pessoa pode se curar apenas com força de vontade
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depressão é uma consequência natural do envelhecimento
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confundir depressão com estresse
É muito importante, especialmente para profissionais de saúde, não minimizar sintomas depressivos. As pessoas não entram em depressão porque querem; estar em depressão é angustiante, e se dependesse apenas da pessoa, ela certamente não permaneceria nesse estado. A depressão precisa de tratamento.
Muitos estudos já foram realizados a fim de tentar identificar quais os melhores tratamentos para a depressão. A conclusão mais aceita é que a combinação de psicoterapia com medicação é a melhor estratégia, sendo um pouco superior à psicoterapia isolada3. Entre as psicoterapias, não há diferenças significativas entre diversas modalidades estudadas, existindo evidência de que as principais linhas, como a terapia cognitivo-comportamental4, as terapias de terceira onda5 e terapias de orientação psicodinâmica6 são igualmente efetivas.
Referências
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American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.
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Ministério da Saúde. (2009). Prevenção do suicídio: Manual dirigido a profissionais da saúde da atenção básica. Campinas: Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp.
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Cuijpers, P., Van Straten, A., Hollon, S. D. and Andersson, G. (2010), The contribution of active medication to combined treatments of psychotherapy and pharmacotherapy for adult depression: a meta-analysis. Acta Psychiatrica Scandinavica, 121: 415–423. doi: 10.1111/j.1600-0447.2009.01513.x
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Hofmann, S. G., Asnaani, A., Vonk, I. J., Sawyer, A. T., & Fang, A. (2012). The efficacy of Cognitive Behavioral Therapy: A review of meta-analyses. Cognitive Therapy and Research, 36 (5), 427-440.
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Hunot V, Moore THM, Caldwell DM, Furukawa TA, Davies P, Jones H, Honyashiki M, Chen P, Lewis G, Churchill R. 'Third wave' cognitive and behavioural therapies versus other psychological therapies for depression. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue 10. Art. No.: CD008704. DOI: 10.1002/14651858.CD008704.pub2.
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Thase, M. E. (2013). Comparative Effectiveness of Psychodynamic Psychotherapy and Cognitive-Behavioral Therapy: It’s About Time, and What’s Next? Am J Psychiatry, 170, 953-956. doi:10.1176/appi.ajp.2013.13060839
02.
Transtorno de Pânico
O que é
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O transtorno de pânico, ou síndrome do pânico, consiste em ataques súbitos de ansidade recorrentes em que se fazem presentes tanto sintomas físicos quanto afetivos. No transtorno de pânico, a pessoa experiencia um medo intenso e repentino que alcança um pico em minutos e no qual se fazem presentes sensações corporais percebidas como ameaça e perigo. A pessoa passa, então, a associar as sensações corporais às circunstâncias em que elas ocorreram, evitando locais e situações nos quais já aconteram ataques de pânico.
O transtorno de pânico costuma se desenvolver no final da adolescência e início da idade adulta, trazendo prejuízos para a vida pessoal e profissional. Sua origem está relacionada tanto a uma maior vulnerabilidade biológica que a pessoa apresenta quanto a eventos traumáticos em sua vida, como a perda de uma pessoa próxima ou de um emprego.
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Sintomas
Para se caracterizar como um ataque de pânico, devem estar presentes pelo menos quatro dos seguintes sintomas, de acordo com o DSM-5:
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Palpitações, coração acelerado, taquicardia
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Sudorese
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Tremores ou abalos
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Falta de ar ou sensação de sufocamento
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Sensações de asfixia
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Dor ou desconforto torácico
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Náusea ou desconforto abdominal
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Sensação de tontura, vertigem ou desmaio
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Calafrios ou ondas de calor
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Sensações de formigamento
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Sensações de irrealidade (desrealização) ou de estar distanciado de si mesmo (despersonalização)
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Medo de perder o controle
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Medo de morrer
Para ser considerado como transtorno de pânico, essas sensações não podem ser causadas pelo uso de substância (ex: droga de abuso) e não podem ser explicadas por outra condição médica (ex: hipertireoidismo).
Tratamento
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado eficaz no tratamento do transtorno de pânico. O tratamento é adaptado para cada pessoa que chega ao consultório com sua própria história de vida e de vivência do transtorno. Entretanto, ele segue um plano terapêutico que consiste fundamentalmente em:
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Orientar a pessoa a respeito do transtorno, suas causas, funcionamento, tratamento e prognóstico.
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Ensinar técnicas para lidar com o medo e a ansiedade, como exercícios de respiração e relaxamento
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Trabalhar os pensamentos que desencadeiam o ataque de pânico
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Ajudar a pessoa a se expor gradualmente a situações temidas. Quanto mais ela entrar em contato com essas situações, menos ameaçadoras elas serão com o passar do tempo.
Referências
American Psychiatry Association (APA). (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (M.I.C. Nascimento et al., trad., A.V. Cordioli et al., rev. técnica). Porto Alegre: Artmed.
Barlow, D.H. (1999). Manual clínico dos transtornos psicológicos. 2a.ed. Porto Alegre: Artmed.
Knapp, P. e cols. (2004). Terapia cognitivo-comportamental na prática clínica. Porto Alegre: Artmed.
03.
Transtorno Bipolar
O que é?
Também conhecido como transtorno maníaco-depressivo, é um desequilíbrio químico que afeta a regulação do humor e a pessoas apresentação uma variação de humor intensa e debilitante. Afetando também os níveis de energia, as pessoas que sofrem de transtorno bipolar podem ter suas vidas afetivas e profissionais afetadas por essas mudanças de humor. contudo, existem hoje tratamentos eficazes, que quando seguidos da forma indicada, possibilita as pessoas a viverem vidas produtivas e plenas.
Sintomas
A bipolaridade se dá de maneira cíclica, quase como um vai e vem de humor onde as vezes as pessoas vivenciam períodos de euforia (mania) em que se sentem extremamente bem, em estado de êxtase, ‘no topo do mundo’ ou até mesmo irritadas e em outros momentos sentem uma tristeza profunda, desânimo e falta de esperança (depressão). Há intervalos de humor equilibrado, mas invariavelmente há um desequilíbrios para um dos lados e o ciclo se repete.
Fase Maníaca
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sentimentos de euforia, alegria excessiva ou irritabilidade
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aumento de auto estima
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energia excessiva com menos necessidade de sono
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discurso excessivo (falar demais e/ou muito rápido)
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aumento de intensidade ou frequência de pensamentos (pensar demais, muito rápido, difícil de acompanhar)
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distração
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aumento excessivo do interesse em atividades (fazer muitas coisas ao mesmo tempo ou muito tempo numa atividade simples)
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excesso de compras, atividade sexual e/ou investimentos com consequências graves
Fase Depressiva
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sentir triste, para baixo ou desesperado
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diminuição do interesse por atividades que antes gostava
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pouca energia; cansaço
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dificuldades do sono: dormir pouco ou demais
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mudanças de apetite: comer muito ou pouco
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dificuldade de concentra-se, esquecimentos ou tomar decisões
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pensamentos de morte ou de suicidar-se
Tratamento
Devido a dificuldade dos pesquisadores em identificar uma única causa para explicar o Transtorno Bipolar, acredita-se que vários fatores podem favorecer o surgimento dos sintomas. Assim como fatores genéticos parecem contribuir, como por exemplo, ter um parente que apresenta bipolaridade ou depressão, fatores ambientais, como estresse, mudanças de padrão de vida ou uso de drogas e álcool, também podem influenciar no desenvolvimento do transtorno.
Pesquisas mostram que tratamento continuo leva a resultados estáveis e bom gerenciamento das variações do humor. Prevenção, informação e honestidade no tratamento podem fazer diferença no quão eficaz o tratamento pode ser.
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Os melhores resultados surgem quando o tratamento consiste de:
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uso contínuo de medicação
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psicoterapia a longo prazo para lidar com os sintomas, os comportamentos e consequências dos mesmos na vida do indivíduo.
Como é grande a probabilidade de interferência e empobrecimentos das relações interpessoais, é recomendado que o tratamento seja também oferecido a familiares e pessoas próximas do paciente. Quanto mais informação sobre o transtorno, possibilidade a possibilidade de aprender estratégias para lidar com quem sofre de Transtorno Bipolar, como também possibilita o ente querido a fazer parte do tratamento de forma positiva.
04.
Transtorno de Ansiedade
O que são?
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Os transtornos de ansiedade são, geralmente, os mais comuns entre os transtornos emocionais. Existem diferentes tipos de ansiedade e esses afetam mais 20 milhões de brasileiros. A ansiedade apresenta-se diferente dos sentimentos comuns de nervosismo ou medo. Os sintomas podem ser tão intensos que levam as pessoas a buscar diversas formas de evitar os agentes causadores de ansiedade, o que piora os sentimentos. Os sintomas afetam a vida da pessoa como um todo, atrapalhando o desempenho no trabalho ou escola e os relacionamentos interpessoais. Se não tratada, a ansiedade pode influenciar o desenvolvimento de outros transtornos, como, por exemplo, a depressão, ou levar a pessoa a procurar formas prejudiciais para lidar com os sintomas, como drogas e álcool.
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Tipos e sintomas
Ansiedade generalizada (TAG)
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Tensão generalizada e persistente que chega a atrapalhar o desempenho social, pessoal e profissional e/ou escolar de um indivíduo. As pessoas que sofrem desse tipo de ansiedade podem apresentar uma série de sintomas como irritabilidade, estresse, dificuldades do sono, falta de atenção, dores musculares ou desconforto físico.
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Ansiedade de separação
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Mais comum em crianças, se apresenta como um dificuldade excessiva de se separar de figuras significativas da vida da pessoa (mãe, pai, familiares, professores, amigos, etc), causando desconforto emocional e podendo levar a reações intensas, como choro, desespero, medo, tristeza ou ‘criar uma cena’.
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Transtorno de Pânico
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Uma combinação de desconforto físico e emocional intensos que desencadeiam uma resposta de ansiedade ou medo sem causa especifica. Pessoas que sofrem desse transtorno podem experiências episódios isolados ou em conjunto de taquicardia, sudorese, náusea, falta de ar, tremedeira, dor no peito, tontura, sentir-se desconectado, descontrole, anestesia, calafrios ou flashes de calor. Devido a severidade dos sintomas, é comum as pessoa acharem que estão tendo um ataque do coração ou que vão morrer, o que piora os sintomas e as reações. Leia mais sobre o Transtorno de Pânico.
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Fobias
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Medo específico de coisas, situações ou atividade. O medo pode ou não ter causa clara e as pessoas fazem de tudo para tentar evitar o agente causador de fobia. Algumas das mais comuns são:
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Fobia específica (cobra, aranha, sapo, de voar, de subir escadas, de elevador, etc)
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Fobia social (medo de contato social)
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Agorafobia (medo de espaços abertos e multidões)
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
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Obsessões são pensamentos desagradáveis e repetitivos que são difíceis de serem controlados pela razão (por exemplo: germes, doença, morte, organização, ou simetria). A compulsão são respostas que a pessoa pensa ou faz na tentativa de diminuir esses pensamentos obsessivos (por exemplo: checar portas, lavar as mão, arrumar as coisas excessivamente, gestos ou pensamentos repetitivos como contar, cantar, falar uma palavra, etc)
Transtorno de estresse pós traumático
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Após vivenciar um evento traumático e/ou potencialmente fatal, a pessoa passa a ter pesadelos, memórias intrusivas, flashbacks ou até mesmo a sensação de estar vivenciando o evento outra vez. Esses sintomas podem desencadear uma série de recursos usados pela pessoa na tentativa evitar esses pensamentos e sensações (como evitar lugares ou pessoas envolvidas no evento, dificuldade para dormir, sentimentos de alerta constante ou irritabilidade). Esse transtorno pode ser comum em militares que retornam de combate, sobreviventes de catástrofes, acidentes ou incêndio, para citar apenas alguns.
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Tratamento
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Como as causas da Ansiedade ainda são desconhecidas, os tratamentos focam no alívio de sintomas. Muitas pesquisam sugerem informações valiosas sobre maneiras eficazes de lidar com o transtorno. Devido à alta incidência de acontecer com pessoas da mesma família, sugere que componentes genéticos e ambientais podem influenciar no desenvolvimento do transtorno. Apesar de muitos estudos ainda estarem em desenvolvimento sobre o funcionamento cerebral relacionado à ansiedade, sabe-se que a resposta do cérebro ao medo também tende a desequilibra-se, o que pode ser tratado com remédios.
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Levando em consideração o que se sabe até hoje e as características únicas de cada tipo de ansiedade, sabe-se que a combinação de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e medicação mostram os resultados mais eficazes comprovados em pesquisas. Vale lembrar que a tendência não é focar na cura total mas sim no gerenciamento de sintomas e desenvolver estratégias que levem à uma vida menos conturbada pelo transtorno.
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05.
Síndrome de Burnout (Esgotamento)
O termo burnout foi citado nos anos 1970 pela primeira vez pelo psicólogo americano Herbert Freudenberger. Burnout significa falta completa de energia e se refere a um estado de esgotamento, geralmente ligado a um estresse contínuo causado por demandas de trabalho. Embora o conceito tenha surgido num contexto de profissões que envolviam ajudar outras pessoas (como médicos e enfeirmeiros), hoje pode ser visto afetando qualquer categoria de profissional.
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Embora esteja presente no Catálogo Internacional de Doenças (CID 10 — Z73.0, descrito como um estado de exaustão vital), o quadro está na seção de problemas relacionados ao manejo de vida, ou seja, é preciso levar em consideração o contexto em que a pessoa está e que pode estar levando a existência do burnout. O burnout não é, então, entendido como uma doença, não constando, por exemplo, do DSM-5 (catálogo de transtornos mentais).
O burnout está cada vez mais prevalente entre profissionais, chegando a atingir mais de 50% em algumas profissões. A síndrome também pode estar presente em populações de jovens e adolescentes que sofrem pressões em relação ao desempenho acadêmico e ingresso em boas universidades.
Os sintomas do burnout se apresentam em três áreas:
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Exaustão: tanto emocional quanto física, envolve dificuldade de tolerar situações difíceis, cansaço, desânimo e falta de energia; fisicamente, pode envolver dores de estômago e problemas intestinais.
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Alienação em relação a atividades ligadas ao trabalho: trabalhar fica cada vez mais estressante e frustrante; cinismo em relação às condições de trabalho e colegas; distanciamento emocional e embotamento.
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Desempenho reduzido: afeta tarefas diárias no trabalho, em casa ou no cuidado com familiares; negativismo em relação às tarefas, dificuldades de concentração e falta de criatividade.
Existem alguns fatores de risco que podem elevar a chance da ocorrência do burnout. Esses fatores podem estar no ambiente ou serem características do indivíduo. Entre os fatores ambientais, estão:
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Burocracia
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Falta de autonomia
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Normas institucionais rígidas
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Mudanças organizacionais frequentes
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Falta de confiança e respeito entre membros da equipe
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Comunicação ineficiente
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Acúmulo de tarefas (sobrecarga)
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Impossibilidade de subir na carreira
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Ambiente físico insalubre
Já entre as características do indivíduo, listam-se:
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Tipos de personalidade suscetíveis ao estresse, que tentam controlar excessivamente as situações, competitivos e esforçados
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Responsabilização dos outros pelo sucesso ou fracasso em suas vidas
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Envolvimento excessivo em suas atividades
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Pessimismo, perfeccionismo e alto nível de idealização e expectativas sobre profissão
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Nível educacional mais elevado
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Solteiros, viúvos ou divorciados
Tratamento
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Uma vez que os fatores causadores do burnout estão em vários níveis, a sua real prevenção precisaria ocorrer também em nível organizacional e social, não apenas no individual. Entretanto, muitas empresas e instituições não demonstram esse cuidado, ficando a cargo do indivíduo buscar algum tipo de apoio, na forma de psicoterapia.
Existem evidências de que a Terapia Cognitivo Comportamental apresenta bons resultados no tratamento dos aspectos individuais do burnout. Novas técnias de terapias, como as baseadas em mindfulness e a Terapia de Aceitação e Compromisso também têm tido resultados promissores frente a contextos de estresse prolongado.
Embora a terapia possa ajudar, se não ocorrem mudanças no ambiente profissional da pessoa, o sofrimento pode continuar sendo alto. Nesses casos, o indivíduo pode considerar suas escolhas de vida e buscar ambientes mais saudáveis. O mais importante é a compreensão de que o burnout não é uma doença da pessoa que está sofrendo com o quadro, e sim um conjunto de sintomas relacionado ao ambiente de trabalho e também à forma como a pessoa lida com ele. Em ambos os casos, a mudança é possível.
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Referências
PubMed Health. (2009) Depression: What is burnout? https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/PMH0072470/
Trigo, Telma Ramos, Teng, Chei Tung, & Hallak, Jaime Eduardo Cecílio. (2007). Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 34(5), 223-233. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000500004
World Health Organization. (1992). The ICD-10 classification of mental and behavioural disorders: clinical descriptions and diagnostic guidelines (Vol. 1). World Health Organization.
World Health Organization. (1992). Guideline for the prevention of mental, neurological psychosocial disorders (5. Staff Burnout). World Health Organization.
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06.
Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)*
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Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um transtorno mental classificado no DSM-V — Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais — que apresenta uma série de sintomas que podem ser agrupados em 4 áreas principais:
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Instabilidade emocional (ou desregulação emocional)
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Distorção de padrões de pensamentos ou da percepção
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Comportamento impulsivo
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Relacionamentos intensos ou instáveis com outras pessoas
Instabilidade emocional
Experiência de uma serie de sentimentos negativos intensos, tais como:
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Raiva
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Mágoa
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Vergonha
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Pânico
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Terror
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Sentimentos duradouros de vazio e solidão
O individuo com TPB pode apresentar variações drásticas de humor em um pequeno espaço de tempo. É comum que pessoas com TPB sintam-se desesperadas e tenham vontade de suicidar-se num momento e depois sentem-se relativamente bem apenas algumas horas depois. Os padrões de comportamento e sentimentos variam, mas a condição chave é que o humor varie de forma imprevisível.
Distorção de padrões de pensamento
Existem três níveis de distorção dos padrões de pensamentos que afetam pessoas com TPB. Esses são avaliados de acordo com a gravidade.
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Pensamentos desagradáveis, como de pensar ser um pessoa terrível ou sentir que não existe. A pessoa pode não ter certeza destes pensamentos mas procura reafirmação constante de que estes não são verdadeiros
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Episódios breves de experiências estranhas, como, por exemplo, ouvir vozes e não saber se elas existem mesmo ou não
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Episódios prolongados de experiências anormais, como alucinações ou crenças das quais é difícil de ser convencido/a do contrário. Sinais de delírio significam que a condição está piorando e buscar ajuda imediata é fundamental
Comportamento impulsivo
O indivíduo com TPB podem se deparar com dois tipos principais de impulsos difíceis de controlar
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Impulso de machucar-se propositadamente (automutilação). Em casos graves, esses impulsos podem se tornar mais intensos e pensamentos suicidas podem se instalar
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Impulso de se envolver em atividades irresponsáveis e perigosas que podem envolver drogas, álcool, sexo com estranhos, gastar mais do que se pode. Comportamentos impulsivos são mais perigoso se a pessoas estiver em estados mais graves de psicose, já que julgamento deles estão danificados
Relacionamentos instáveis
Indivíduos com TPB podem se sentir abandonados quando mais precisam de outras pessoas ou aproximar-se demais dos outros e "sufocá-los" emocionalmente.
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Quando pessoas com TPB sentem-se abandonadas, podem sentir emoções intensas de ansiedade e raiva. Assim, tentam maneiras exageradas de prevenir o possível abandono:
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Constantemente ligar ou enviar mensagens de texto para alguém
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Ligar para alguém de repente no meio da noite
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"Grudar" em alguém e recusar de separar-se
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Fazer ameaças de se machucar ou matar-se caso o outro o deixe
Em contra partida, é possível também que a pessoa sinta que outros estão a sufocando emocionalmente ou controlando, o que causa sentimentos intensos de medo e raiva.
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O indivíduo também pode reagir de forma a "forçar" que outros o deixem em paz, isolando-se, rejeitando outros ou usando de abuso verbal.
Esses dois padrões geralmente levam a relacionamentos instáveis de "amor e ódio" com certas pessoas.
Muitos indivíduos que apresentam sintomas de TPB parecem estarem presos a uma maneira rígida de ver e avaliar as coisas (ex: “tudo em branco ou preto", "8 ou 80"). Em um determinado momento o outro é perfeito e maravilhoso, e no outro a pessoa é terrível. Pessoas com TPB tem dificuldade em ver o meio-termo das situações. Isso geralmente torna-se confuso para as pessoas no relacionamento e muitas vezes leva casais a terminarem ou amigos e familiares a brigarem.
Por que é tão difícil diagnosticar o transtorno de personalidade borderline?*
*Texto inspirado dos conceitos extraídos do livro Vencendo O transtorno de Personalidade Borderline com terapia cognitivo-comportamental da Dra. Marsha Linehan (1993)
Uma das considerações principais da teoria biossocial do TPB é a desregulação emocional. Isso é entendido como resultado da interação entre disposição biológica e o contexto ambiental no decorrer do desenvolvimento. Sendo assim, o indivíduo acaba tendo dificuldade em modular suas emoções de uma forma adaptada e apropriada quando algo acontece e afeta seus sentimentos. Essa vulnerabilidade acaba acontecendo pois faltam estratégias adequadas para lidar com as emoções. Frente a isso, já que as repostas não são consistentes e mudam de acordo com a situação, a pessoa com TPB acaba sendo constantemente criticada e considerada como manipulativa. Assim, outras pessoas tendem a reagir mal ao indivíduo com TPB e sentem-se manipulados por eles.
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Características da vulnerabilidade Emocional:
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Sensibilidade elevada a estímulos emocionais (reage rapidamente quando emotivo/a)
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Resposta intensa a estímulos emocionais (reage de forma desproporcional às situações)
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Retorno lento ao nível basal emocional depois que ocorreu a excitação emocional (dificuldade em acalmar-se)
O que é modulação emocional?
Capacidade de:
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Inibir o comportamento inapropriado relacionado com emoções negativas ou positivas fortes
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Organizar-se para agir de forma que não dependa do humor
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Acalmar qualquer reação fisiológica (ex: taquicardia, sudorese, choro, etc) que tenha sido iniciada por causa da forte emoção
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Retomar o foco da atenção mesmo quando sob efeito de fortes emoções
Assim sendo, a disposição biológica – mas não somente pela hereditariedade, mas também pela forma como o bio-psico-social interage no desenvolvimento de um indivíduo, pode acarretar numa forma desorganizada de regulação emocional. Como cada pessoa tem uma disposição biológica diferente, dai a dificuldade em realmente diagnosticar o TPB com firmeza.
Vale lembrar que a Terapia Comportamental Dialética (TCD) vem mostrando excelentes resultados em pesquisas controladas no exterior como uma maneira eficaz de tratamento para TPB, ajudando indivíduos que sofrem com o transtorno a aprender estratégias mais adequadas para lidar com suas fortes emoções.
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07.
Transtorno de Estresse
Pós-Traumático Complexo (TEPT-C)
O transtorno de estresse pós-traumático complexo (TEPT-C ou TEPT Complexo) é uma proposta de diagnóstico para pessoas que passaram por contextos prolongados de trauma. Outro nome para o TEPT-C é DESNOS (Disorders of Extreme Stress Not Otherwise Specified). Geralmente, os eventos que levam ao TEPT tradicional são de curta duração, como um assalto, um sequestro ou um período em um campo de batalha. Entretanto, pessoas podem ser expostas a situações traumáticas, como abuso psicológico, físico ou presença em zonas de conflito por até anos a fio. Quem passa pelo trauma prolongado teria sintomas específicos, além dos sintomas apresentados pelas pessoas que enfrentam traumas pontuais.
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O TEPT-C pode ocorrer em situações em que a pessoa está numa situação em que não pode fugir do perigo, estando no controle daquele que inflige a agressão ou abuso, como:
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Campos de concentração
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Prisões de guerra
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Casas de prostituição
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Violência doméstica prolongada
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Abuso físico prolongado na infância
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Abuso sexual prolongado na infância
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Organizações de exploração infantil
Sintomas
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As pessoas que se enquadram no diagnóstico de TEPT-C podem apresentar, como sintomas, dificuldades nas seguintes áreas.
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Regulação emocional. Pode incluir tristeza permanente, pensamentos suicidas, explosividade ou raiva inibida.
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Consciência. Inclui esquecimento de eventos traumáticos, reviver eventos traumáticos, ou episódios em que a pessoa se sente desconectada de seus próprios processos mentais ou corporais (dissociação).
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Percepção de si. Pode incluir desesperança, vergonha, culpa, estigma e um senso de ser totalmente diferente de outros seres humanos.
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Percepções distorcidas do perpetrador/abusador. Exemplos envolvem atribuir total poder ao abusador, preocupar-se com a relação com o abusador, ou preocupar-se com vingança.
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Relacionamento com os outros. Exemplos incluem isolamento, desconfiança, ou uma constante busca por um salvador.
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Sistema de significado. Pode incluir a perda de fé ou uma sensação de desesperança e desespero.
O TEPT-C pode apresentar sintomas característicos de outros transtornos, como automutilação, abuso de substâncias e dissociação. Por isso, muitas vezes pessoas com TEPT-C são diagnosticadas como apresentando um transtorno de personalidade, como borderline ou dependente.
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Tratamento
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O TEPT Complexo não foi aceito como diagnóstico na elaboração do DSM-IV porque os sintomas eram muito semelhantes ao TEPT. Ainda assim no momento do tratamento, é importante considerar aspectos específicos da exposição prolongada ao trauma.
Sendo assim, não existe um tratamento específico que tenha sido estudado e reconhecido como o ideal para os sintomas específicos de TEPT-C. Entretanto, há algumas diretrizes que podem nortear o trabalho terapêutico nesses casos, como as seguintes.
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Restaurar a sensação de capacidade e controle da pessoa traumatizada sobre a própria vida.
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Promover relações interpessoais que gerem segurança.
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Abrir espaço para lembranças e luto pela situação que ocasionou o trauma.
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Restabelecer contato com a vida cotidiana.
Referências
Herman, J. (1997). Trauma and recovery: The aftermath of violence from domestic abuse to political terror. New York: Basic Books.
U.S. Department of Veteran Affairs. Complex PTSD. https://www.ptsd.va.gov/professional/PTSD-overview/complex-ptsd.asp. Visitado em 14/2/18.